Estão presentes nessa estória os sofrimentos e as esperanças, bem como a vitória da heroína humilhada pelas irmãs adotivas.
Borralheira é humilhada pelas irmãs adotivas. Sua madrasta faz tudo que suas filhas querem e sacrifica Borralheira para fazer as vontades delas e os trabalhos domésticos. Com isso a criança associa a estória de Borralheira ao seu cotidiano, quando a mãe pede que faça um favor, ou quando nasce um irmão. Sente-se enciumada e acha que pelo fato de ter ganhado um irmão será desprezada e tratada como Borralheira.
Encontramos também nessa estória a rivalidade fraterna, entre Borralheira e suas irmãs adotivas. As irmãs sentem ciúmes de Borralheira, portanto passam a maltratá-la. Esse ciúme é gerado devido à beleza de Borralheira. Durante os anos de rivalidade fraterna a criança vivencia um período interior de sofrimento, privação e carência, ela experimenta equívocos e malícia. Os anos que Borralheira viveu entre as cinzas dizem a criança que ninguém pode escapar disso. A estória ajuda a criança a aceitar a rivalidade fraterna como um fato de vida comum.
Nenhum outro conto relata tão bem como “Borralheira” a fase edípica da criança. A criança antes de entrar na fase edípica, acredita que é adorada, amada e protegida pelos pais; se tudo ocorrer bem na família. Assim, ela não tem motivo para ter ciúme de ninguém. Em todas as versões de “Borralheira”, são relatados os desejos e ansiedades edípicas da menina. O desejo de ser amada, e mesmo ser parceira sexual do pai, que no começo do processo edípico parece natural e “inocente”. As decepções edípicas do seu período final trazem dúvidas sobre o censo de valorização da criança. Ela é repreendida durante a socialização; sente ciúmes e medo de ser rejeitada pelos pais; os irmãos mais velhos parecem tirar vantagem da criança, que agora passa a ser menos protegida. Em “Borralheira” ela se encontra com o príncipe e conquista seu amor,o que o transforma num substituto do pai,como um homem a quem ela mais ama no mundo.
Quando a criança ultrapassa a idade edípica está pronta novamente para ter boas relações com a mãe. Em “Borralheira”, a fada aparece como uma representação simbólica da mãe original que fornece à filha os meios de encontrar um príncipe, permitindo que a filha tenha êxito sexual com o príncipe, um objeto não edípico.
Esta estória é importante para a criança, pois mostra que os sonhos podem se tornar realidade. A cena que demonstra isso é quando Borralheira quer ir ao baile com suas irmãs e não pode, então a fada madrinha aparece e realiza o seu desejo. Mostra também que os humildes serão exaltados. Borralheira sofre todas as humilhações, mas continua com o coração puro e como recompensa casa com o príncipe. Ensina que, quando se faz algo errado se é castigado. As irmãs queriam casar com o príncipe, mas ele escolhe a Borralheira. Traz a inocência de Borralheira, pois ela não faz nada contra sua madrasta e suas malvadas irmãs.
